domingo, 18 de março de 2012

Teólogo critica ateus e glorifica irracionalidade

Hoje nas minhas inclusões no mundo maluco me deparei com o seguinte filme:


Pra quem não conhece, Alister McGrath é professor de teologia, da King's College de Londres, e tem sido um duro crítico dos chamados "neo-ateus", como evidenciado em seu famoso livro "O Delírio de Dawkins" (obrigado, Erick). No filme, McGrath fala sobre a Convenção Internacional de Ateus que irá acontecer em Melbourne (Australia) e sobre seu entusiasmo em comparecer a essa convenção. McGrath obviamente não é ateu e em seu vídeo faz algumas colocações que considero no mínimo equivocadas:

O neo-ateísmo enfatiza a racionalidade do ateísmo. Ateísmo é sobre fatos, fé é sobre fugir da realidade.
Estou com você até aqui.
Richard Dawkins, como vocês se lembram, rejeita fé como um tipo de doença mental e Christopher Hitchens, em seu livro "Deus não é Grande", diz "Nossas crenças são a ausência de crenças". O ponto que ele estava tentando fazer é que você só aceita as coisas que podem ser absolutamente provadas.
Absolutamente provadas? Eu tinha a nítida impressão que Dawkins e Hitchens concordavam que é impossível provar a não-existência de uma divindade transcendental. A resposta de Hitchens para a questão é bem clara: não faz a menor diferença se é possível provar ou não a inexistência de Deus, visto que ele seria contra um regime espiritual totalitário, como o advogado pelas religiões abraâmicas, por questões morais. Essa ideia de que "neo-ateus" valorizam apenas aquilo que pode ser provado é uma representação errônea do ateísmo desses autores e da grande maioria dos ateus que conheço. Ele prossegue:
O ponto principal aqui é que nenhuma das verdades pelas quais nós vivemos são coisas que podem ser provadas. Você pode provar algumas coisas por razão, outras por ciência, mas elas não são as Grandes Verdades nas quais nós podemos basear nossas vidas.
Então elas não são exatamente verdades, mas opiniões. É obvio que McGrath, assim como outros religiosos, usam o termo "Verdade" para expressar algo que não é necessariamente "verdade", mas algo que eles sentem que pode ser verdade (uma crença), mas não querem analisar sob o escopo da razão:
Eu não posso provar que democracia é melhor do que fascismo, eu não posso provar que existe um Deus, assim como meus colegas ateus não podem provar que não existe nenhum Deus. Eu não posso provar que eu estou certo quando digo que nós devemos ajudar aqueles que são marginalizados e desalojados. [...] Mas isso não é causa para preocupação. Porque todo mundo sabe que as coisas realmente importantes na vida estão além da razão.
Então, aparentemente, eu sou exceção. Até onde posso conceber, é possível fazer um argumento ético sobre a superioridade da democracia em relação ao totalitarismo, assim como podemos fazer argumentos lógicos em favor da conclusão de que Deus existe ou que não existe. Nada disso está além do escopo da razão. O fato de que McGrath consegue chegar nessas conclusões sem corrobora-las através de argumentos lógicos não implica que toda conclusão irracional é válida. Pelo contrário, isso apenas implica que McGrath não pode discutir logicamente sobre o assunto, enquanto eu e outros que não jogamos a razão pela janela (ateus e teístas) ainda podemos.

Como adendo final, ele coloca:
Nós fazemos a pergunta: qual sistema de crenças é mais racionalmente baseado, dá mais sentido à vida, trás estabilidade, dá entusiasmo! Eu você sabe, eu me fiz essa pergunta muitos anos atrás e eu achei a resposta. E é por isso que eu sou agora um cristão.
Visto que McGrath descarta razão como um instrumento válido para avaliar a existência de Deus, fica claro que McGrath não está argumentando que razão, bem estar, estabilidade e entusiasmo provam a existência de Javé, mas sim que tudo isso justifica sua filiação à fé cristã.

Deus? Bem, esse pode muito bem não existir. Pelo menos é o que a razão me diz.

3 comentários:

Não vi o vídeo, mas li o texto, então acho que posso opinar.

Alister McGrath "provou" com seu livro O delírio de Dawkins que Dawkins estava errado. Isso, é claro, após jogar fora ou distorcer vários argumentos, dando a entender que não apreendeu bem a mensagem de Deus, um delírio... E, como sabemos, não fez o que seria uma vitória definitiva sobre Dawkins, ou seja, não provou a existência de Deus.

Aliás, vendo alguns parágrafos que você transcreveu, tenho a impressão de que ele adora o relativismo... Isso, é claro, quando tal relativismo não relativiza sua própria crença.

Dizem que "não existe ateu em avião caindo", mas para onde vai qualquer pessoa doente em sã consciência?

Abraços!

Olá Erick,

Se você já tem McGrath em tão baixa estima, sugiro que assita o vídeo assim que vier tempo.

Notará que eu deixei de fora a crítica mais obvia, que é exatamente uma descaracterização extrema do ponto de vista do Dawkins. Nada mais feliz do que reforçar conceitos ;)

Ainda pretendo voltar às visões de McGrath sobre o evolucionismo teísta.

Abraços

Me pareceu que o argumento chave do Sr. McGrath era: se os ateus não podem provar que deus não existe, mas mesmo assim não creem nele, então também tem suas conclusões baseada em fé, e não em razão, vez que concluem sem provas.
Na minha opinião a refutação ao argumento é bem simples: não há razão alguma para acreditar o universo (e/ou a vida) tenha sido criada por uma entidade autoconsciente e com algum propósito, ergo, não acredito. Quer algo mais calcado na razão do que isto?
É basicamente o brincadeira do Espaguete Voador.

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